265 anos da morte de Sepé Tiaraju

🏹 265 anos da morte de Sepé Tiaraju
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São Miguel: terra de Sepé Tiarajú
​ “Esta terra tem dono”, expressão atribuída ao líder indígena Sepé Tiarajú, por ocasião da defesa do território das Missões, nos confrontos dos guarani com os exércitos dos Reinos de Portugal e Espanha, os quais marcharam unidos para fazer com que os missioneiros cumprissem os termos do Tratado de Madri.
Ainda que de autoria incerta, o enunciado “esta terra tem dono”, encontra consonância no modo com que os Guarani se relacionavam com o território. O apego ao local onde viviam era de tal ordem que pode ser percebido em diversos momentos da vida missioneira. Um desses acontecimentos é aquele em que foi necessário dividir a população da Redução de São Miguel Arcanjo devido ao seu número de habitantes ter crescido bem acima do que o povoado estava preparado para manter. Por isso, a poucas léguas deste, foi fundada a redução de São João Batista, para onde migrou mais de mil pessoas do povo miguelino. Por ocasião desta mudança de lar, há relatos de que muitos guarani de todas as idades, chorando, se agarravam às colunas das edificações pretendendo que não os arredassem do lugar onde viviam. Isso se deu pouco anos antes de 1700, quando seguramente o Sepé ainda não havia nascido.
Se isto ocorria nas situações de certa normalidade, pode-se entender a reação dos guarani diante da imposição de que deixassem para sempre as Sete Missões do lado Oriental do Rio Uruguai e passassem para a outra banda do rio (onde hoje está a Argentina), termo previsto no Tratado elaborado no ano de 1750 e assinado no ano seguinte, entre Portugal e Espanha, reinos estes que eram os donos destas terras. Alguns anos depois, em 1753, quando uma comissão foi enviada ao território das Missões com a incumbência de demarcar os novos limites territoriais do Sul da América entre as duas maiores potências do mundo ocidental da época, foi que se ouviu falar de Sepé Tiarajú pela primeira vez.
Ainda que não se saiba em detalhes a exata intervenção realizada por Sepé neste episódio demarcatório, diversos documentos como cartas, algumas escritas pelo próprio Tiarajú, diários de padres das Missões e dos integrantes das forças militares das cortes, atestam que o líder de São Miguel exercia grande influência nas decisões dos missioneiros. De outra parte, já não é relevante se a frase “esta terra tem dono” foi ou não pronunciada ou se foi verbalizada exatamente como a repetimos hoje. O mais relevante, parece, é que ela expressa a ideia de pertencimento ao território e o compromisso de resguardá-lo para o seu povo.
Os guarani das reduções, e Sepé Tiarajú em particular, estavam seguros de que a terra das missões havia sido dada a eles de presente pelas divindades, como se vê escrito em correspondências entre os líderes indígenas. O próprio São Miguel, segundo escreveram alguns, teria descido dos céus para lhes entregar este território e, por certo, lhes daria forças para lutarem por ele, especialmente nesse momento decisivo que o tratado impunha a simples remoção das mais de trinta mil almas das sete missões orientais para o outro lado do rio Uruguai. Reafirmaram tantas vezes, e agora mais do que nunca, que abandonariam suas terras.
Sepé Tiarajú foi morto no dia 7 de fevereiro de 1756, no atual município de São Gabriel, onde o exército guarani formava uma linha de defesa para que portugueses e espanhóis, que marchavam desde o litoral, não avançassem até as cidades missioneiras. Três dias depois, houve o massacre do exército indígena no campo de batalha ao lado de onde tombou Sepé.
Deste episódio, dentre tantos outros ensinamentos se sobressai o legado de defesa da terra em que viviam os missioneiros. E deste ato histórico de coragem e de luta pela proteção do seu povo deriva para as lendas, crenças e para os versos do cancioneiro popular a imagem de um guerreiro, símbolo de altivez para uns, santo para outros, personagem mitológico para tantos. Sepé Tiarajú é tudo isto e mais. É Herói da Pátria para os brasileiros e em reconhecimento pela sua atuação nas missões se rendem homenagens por ocasião da data de sua morte.
(Jerson Fontana, formado em História).
Fonte:
BURD, Burd. De Alferes a corregedor: a trajetória de Sepé Tiarajú durante a demarcação de limites da América Meridional, 1752-1761. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre, 2012.
GOLIN, Tao. A Guerra Guaranítica, 1750-1761. Editora da Universidade do Rio Grande do Sul e EDIUPF. Porto Alegre e Passo Fundo, 1998.